cigarrada

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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O largo Peço desculpa se contrario Manuel da Fonseca, pois aqui o largo ainda é o centro do mundo. É claro que um bairro não é um largo, mas este resume-o bem. Marca-o o Algartalhos, um mini-mercado com marcas brancas e carnes boas ao lado do qual temos o multibanco e, no sentido em que lê o mundo Ocidental, escadarias que dão acesso aos prédios laterais. A seguir, o recreio de um jardim de infância e um parque de escorregas e baloiços. Depois uma abertura larga e um café de fabrico próprio com esplanada para oito mesas quase sempre cheias das sete da manhã às onze da noite. De manhã cedo encontro um ou outro homem e mulher que vai comprar pão de água, de mistura ou de forma, encontro as trabalhadoras do supermercado a falarem logo cedo das colegas sobretudo das que não estão presentes, e os da Fagar com os coletes amarelos e as vassouras, bem como um senhor internado no Lar lá de cima, senhor este que bebe três cafés consecutivos e fuma o dobro dos cigarros em escassos minutos. Há também os que vêm passear os cães mesmo antes de tomarem banho. Cruzo-me também a essa hora com os distribuidores de jornais e revistas e, se me demoro na estadia, com as mães que vão entregar os filhos na creche. De vez em quando regresso ao largo à procura das vozes das pessoas que estão nas pausa do trabalho como é o caso das auxiliares de acção educativa ou de gente desocupada como eu. Paredes meias com o café há uma papelaria para registar totolotos e uma cabeleireira e, por cima e de lado, sempre prédios incluindo um rés-do-chão de grandes montras de uma mercearia recentemente encerrada. Fechando o ciclo outro café com ampla esplanada, desta feita, frente novamente ao Algartalhos. No centro, o largo. As crianças que brincam, algumas mães nos bancos vigiando as escorregadelas, mais as que andam de triciclo e bicicleta, os cães passeados, os sexagenários à sombra, as senhoras que aviam as compras. Há árvores aqui. Várias árvores. Quem me dera conhecer-lhes o nome, tal como já o de alguns vizinhos. Gosto muito do vizinho marroquino que beija os homens seus conterrâneos. Ele vende blusas, calças e saias que transporta num grande sacos de asas. Também simpatizo com o senhor que anda sempre com um trole e que vende bolas de Berlim na praia. Depois há outros. O dono do labrador que come paposecos e a quem o dono limpa as ramelinhas com um guardanapo. Há muitos homens, quase sempre os mesmos, a beber muita cerveja e algumas velhotas a sorver galões. Há expedientes vários, o daquele que recolhe o lixo de um dos cafés e cuja única função é só essa, o do jovem que vende peixe fresco, o da senhora que vende amêijoas ou, da outra, que vende melões e, ainda, o da mulher dos moínhos de vento. Conheço pelo nome a Rosa que engoma roupa em casa e a dona Xana que faz limpezas. Elas dão-me dicas de cabeleireiros baratos e de mézinhas para as dores nas costas. Frequentam uma Igreja que também a há aqui nas cercanias. Há, aliás, também uma boa rede de transportes públicos e um Centro de convívio gerido por mulheres e, não raras vezes, há bailes e mastros. Estamos no bairro da Atalaia e no largo dos cooperativistas, e estes dois nomes dizem quase tudo!