cigarrada

cigarrada

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Estereótipos felinos! A minha Bufa é uma gata com personalidade! Não raras vezes ouvimos um alguém ser resumido a isto: "a criatura tem personalidade". Com tal imperativo quer caracterizar-se pessoa forte, por vezes mesmo até anafada, de resposta na ponta da língua, não importa se roçando a insolência, pragmática, destemida até, preferencialmente opinativa, resoluta, desenrascadinha. Diz-se isto com a maior desfaçatez como se alguém, alguma vez e de alguma forma, pudesse não ter alma. Fosse coisa. Coisa nenhuma, nulo, zero, vazio e oco. O senso comum fá-lo para reduzir a menores proporções aqueles que optam por silenciar observando, medindo as circunstâncias, os lugares, os momentos, pesando os argumentos, avaliando. Como se estes seres não fossem sujeitos gerúndios e andassem neste ando, ando da vida a equilibrar as oportunidades de serem mais certeiros e de acordo com as sinceridades. Equilíbrios só possíveis vindos de quem mais ouve do que diz. Nada do que escrevo é felino, mas a verdade é que vem a propósito da minha Bufa e também da minha Bia. Bufa é aquela tipa curiosa, presumida. Aquela que me confisca meias enquanto estendo a roupa, aquela que entra dentro da gaveta de cada vez que tiro uma panela, aquela que se enrola na vassoura sempre que limpo o chão. Bufa, a fera que me salta para o colo, que me desafia, que levanta a pata para os rodapés do telejornal só porque as letras saltam. Bufa é a gata que tem brinquedos. Quando ainda era mínima comia do seu prato e do prato da outra, comida de adulta, portanto. Se a apertássemos com carinho, exalava tais flatulências que assim ficou conhecida, Bufa a cagalosa. Foi, como é bom de ver, o atrevimento, que lhe deu o nome. Bia, bom. Bia é aquela bicha quase de passerelle. Daquelas que primeiro põem um pé, só depois o outro, só depois o outro. É cautelosa. Cheira tudo. Cheira devagarinho. Encontra cantinhos só dela. Não reage a estímulos tontos. Só come se não estiver ninguém por perto. Fica parada horas infindas a contemplar coisas que acho que só ela vê. Bia parece que lê jornais porque pensa muito. Bia declinou o seu lugar na minha cama e o seu areão. É desapegada e gosta que a deixem em paz. Ambas são tigrezas, cheias de presença, cheias de conceito, muito carácter, elegante perfil, características muito próprias de animais felpudos cuja alquimia que vivemos me faz libertar muita oxitocina. Alentos que coabitam muito lá por casa, nos quais, não raras vezes me projecto, e que, entre outros ensinamentos, já me avisaram que é sempre de repudiar os estereótipos.