cigarrada
terça-feira, 14 de outubro de 2014
Volta e meia entro no táxi.
Nas circunstâncias mais inesperadas tenho que sustentar viagens, conduzir momentos, escolher caminhos, manter diálogos e garantir breves socializações.
Sucedem-me, então, os retrovisores. Esquerdo e direito, cobrindo os flancos laterais e o outro, por cima do tablier, vinte a trinta centimêtros de largura, proporcionando visão panorâmica da traseira.
Queria focar-me só na estrada: passadeiras, semáforos e demais sinalėctica. A paisagem horizontal.
Porém os stops surgem-me todos da rectaguarda. Rasgos, sorrisos nervosos, trauteares musicais repetitivos, estalares de dedos, bateres insistentes de objectos sobre a mesa, gestos propositados de indiferença, perguntas lançadas com as cabeças no sentido contrário, enfregar de olhos, ares expulsos demorando e denotando enfado, rasteiras com as mãos, braços cruzados, bocejos.
Como sinais proibitivos que são fazem-me parar. Bloqueio porque o que me é dado ver não corresponde ao que me querem mostrar.
E fica assim interrompido um caminho qualquer como se no decurso da estrada surgisse um abismo e eu tivesse que escolher quem cai. Termino tudo o que é encetado sem verdade. Os espelhos têm esta desvantagem: quanto mais nos vemos mais vemos os outros.