cigarrada

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quinta-feira, 6 de novembro de 2014

FAROESTE Hoje cruzei-me com John Wayne. O cowboy e a sua arte de cavalgar em todas as selas passaram por mim no viaduto. Entre a dita "civilização" e a área mais remota dista pouco. Depois desta varanda há uma via rápida com dois sentidos, a linha de caminho de ferro, outra via rápida e o deserto selvático. Ei-lo. Um território inóspito que marca o triunfo da fronteira: para lá só a ria. Chamar-lhe formosa é um exercício de falácia da composição. Aqui, vista daqui, também ela é um abandono só e, porventura, suscita ainda mais desejos de conquista. Não fora a natureza impor-se e haveria também pioneiros, grandes empresários e muitíssimos empreendedores a querê-la. A riqueza e o progresso, o trinfo do individualismo, a exploração dos recursos, os avanços. Tudo isto motivou as américas para que crescessem, tudo isto motiva Faro para que se expanda, mas...afinal, quem estabelece as fronteiras? As necessidades, a cobiça, o direito, o desejo? Um homem só? Meia dúzia? Juro que vejo cavalos por aqui. Bravos. Muita corda e muito laço, carroças e assaltos ao comboio. Juro que oiço tiros (quando os carros passam por aquela lomba solta) e tiroteios quando os aviões cruzam o céu rumo à zona de aterragem que pensam que faz de Faro capital. Estou aqui entrincheirada com os binóculos do meu Pêpê e sei que este cenário de guerra tanto está à minha frente como atrás de mim. Para lá os restos da apropriação, as ruínas, casas sem tecto, sem portas, sem janelas, uma vida qualquer deixada para trás. Para cá, prédios, prédios, prédios. Pessoas em cima umas das outras. Qualquer ameríndio se ria disto. Qualquer nativo conflituava com isto. Isto é uma cidade sem indústria, sem agricultura, sem boas comunicações, sem planeamento, sem urbanismo, sem arquitectura paisagista. Isto é para Jonh Ford o cenário para um western, isto é o Faroeste. (Atalaia)